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UM DIA, ELES VÃO GRITAR BASTA!

 

Jovens mal vestidos, desgrenhados, de "mau aspecto", pessoas como tu, desempregados, envoltos em suas brutalidades e violências, revoltados, marginalizados, com destinos anulados, e futuro abolido. As vidas devastadas desses "jovens" (e dos menos jovens) não causam escrúpulos aos outros. Os escrúpulos são para eles, com a vergonha de ser malditos. Excluídos do que se lhes exige, portanto do desejo eventual de corresponder, só podem inventar outros códigos, válidos em circuito fechado. Códigos deslocados, rebeldes. Ou então seguir certos delírios. O isco da droga, os desastres do terrorismo. Tentação de se tornar os proletários destas actividades. De serem proletários de qualquer coisa: a isto se chegou!

A sociedade olha para eles de soslaio, desconfiada, afastam-se deles – talvez porque não representam "nichos de consumo" – mas sobretudo porque haveria o perigo de neles se filtrarem elementos mobilizadores num sistema que leva à letargia e encoraja um estado que nos atrevemos a comparar com o da agonia. Que tristeza, que decepção vê-los infringir os códigos de bem viver, as regras de bom comportamento dos que, com a barriga cheia, numa situação de autoridade, os marginalizam, tratam por tu, empurram e desprezam!

Ei-los, na idade da efervescência, com sonhos ultrapassados e nostalgias vãs.

Com um desejo imenso, mascarado pelo ódio, dessa sociedade ultrapassada acerca da qual são sem dúvida os últimos a ter ilusões! Tal é o desejo de alguns destes "jovens" – de todos, talvez – habitados por um sonho louco: integrar-se numa sociedade geograficamente contígua, mas inacessível às suas biografias. Muitos deles – muitos mais do que se imagina – têm o desejo de poder ousar esse sonho de forma tanto mais precisa quanto irreal: conseguir trabalho! Lá estão eles, presas da ausência, prisioneiros da demência e da injustiça, cobiçando o que não existe, sem estatutos, sem carinhos, ávidos e privados do que julgavam real e ser-lhes devido. Tentam imitar o que em vão desejam e, portanto roubam, drogam-se e fazem amor, para alcançar aquilo que nunca aconteceu e que lhes gabaram como acessível, desejável, necessário e garantido.

Um dia, os nossos jovens vão gritar em uníssono: Basta!

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